PARIS - Múltiplos anúncios em uma semana e ataques em vários continentes. Independentemente de o grupo tê-los organizado, guiado, ou inspirado, o site de propaganda jihadista Amaq - criado pela organização extremista Estado Islâmico (EI) - serve de instrumento eficaz para reivindicar atentados, afirmam analistas.
De Manchester a Melbourne, passando por Somália, Indonésia, Egito, Manila, Londres e Irã, os últimos dias foram marcados por uma série de ataques cuja autoria foi reivindicada pelo EI, na maioria das vezes, por seu canal habitual, a Amaq.
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Embora tente adotar os códigos dos meios de comunicação internacionais, o site é nada mais do que um instrumento de propaganda, embora os serviços antiterroristas considerem suas reivindicações confiáveis.
"A multiplicação de reivindicações nos últimos dias coincide com a multiplicação dos ataques", disse Mathieu Guidère, especialista em grupos islamistas.
Estas reivindicações correspondem a atos inspirados, guiados ou organizados pelo EI "porque (eles) não podem se dar ao luxo de mentir sobre um ataque ou reivindicar ações que não foram executadas em seu nome. Se fosse o caso, seriam motivo de risada de todos os grupos extremistas. É a sua credibilidade que está em jogo".
Estratégia
Até agora "não temos conhecimento sobre reivindicações falsas. Pode ser que às vezes exagerem ou tenham problemas, mas não há nenhum exemplo de uma reivindicação claramente inexata", assinalou Thomas Jocelyn, do centro de reflexão Foundation for Defense of Democracies, em Washington.
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Durante o apogeu do califado autoproclamado pelo EI nos territórios que controlava na Síria e no Iraque, a comunicação do grupo estava centralizada e sob controle dos poderosos chefes. Agora, está descentralizada e mais rápida, considerou Guidère.
"Criaram uma nova maneira de reivindicar" ataques, assinalou. "Antes, precisavam da autorização do comando central. Agora, como perdem terreno em várias frentes, o site de propaganda deles conta com vários correspondentes descentralizados que têm o poder de reivindicar ataques em nome do EI".
"Foram feitos chamados a todos os seus apoiadores, em todo o mundo, para estimulá-los a agir para mostrar que não estão derrotados, apesar dos reveses na Síria e no Iraque", acrescentou. "Querem demonstrar que seguem ativos fora das terras do califado, e que o número de combatentes fora dele é mais importante do que dentro.”
Para que o grupo reivindique a autoria de um atentado, deve existir um vínculo entre o EI e o extremista que o executou, explicou Romain Caillet, especialista no tema. "Ou os organizaram diretamente, ou há elementos suficientes para que estejam convencidos de que guiaram ou inspiraram o autor do ataque. Pode ser um vídeo, mensagens ou uma ligação", apontou.
A violenta estratégia de comunicação do Estado Islâmico
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"A Amaq foi criada pelo Estado Islâmico para substituir as contas do Twitter que utilizava antes e foram encerradas", continuou.
Contudo, não se sabe como o site funciona em detalhes, apesar dos depoimentos de alguns antigos membros que deixaram o grupo ou de integrantes detidos e interrogados. Eles o descrevem como um organismo importante do EI, com muitos recursos e considerado crucial pelos chefes da organização.
Na semana passada foi anunciada nas redes sociais a morte de um dos fundadores do site, o sírio Rayan Machaal, em um bombardeio da coalizão internacional comandada pelos EUA. Esta informação não foi confirmada até agora. / AFP
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